Viva, a vida é uma festa

17 Dezembro 2018

Viva, a vida é uma festa

Imagem: Viva, a vida é uma festa

 

As histórias que carregamos dentro da gente são somente nossas? Uma discussão a partir do filme “Viva, a vida é uma festa”.


Quero falar de um tema muito importante e difícil de ser identificado, mas que tem enorme efeito sobre a vida de uma pessoa. É sobre o tema da transgeracionalidade que pretendo explicar um pouquinho aqui. O belíssimo filme “Viva- a vida é uma festa”, conta sobre a tradicional festa mexicana do dia dos mortos. Esse filme ilustra lindamente a história de uma família e de seus ancestrais, indo do neto ao tataravô. Apresenta uma história transgeracional onde há uma repetição de algo que estava lá guardado no passado, mas que não pode ser enterrado porque ficou como algo traumático. O tataravô foi um homem apaixonado por música, sua esposa lhe acompanhava e compartilhava dessa paixão, viviam viajando em função da música, até que nasce sua filha. A mãe dessa bebê sentia necessidade de criar raizes, sentia que isso era necessário para o bem estar de sua filha, e ela não queria mais ficar viajando com o marido para ele tocar e cantar. Então o pai da bebê vai embora, se aventurar em sua paixão musical. Esse foi um momento decisivo, de total rompimento entre a família. Foi se passando de geração para geração que a música estragava as famílias e nessa árvore genealógica, dali em diante, ninguém mais poderia se aproximar dessa maldição que era a música. Mas ninguém falava mais sobre isso, colocaram uma pedra e o assunto foi “enterrado vivo”.


Todos, sem saber da história, se afastaram dessa paixão, nem sequer chegavam a admitir em seus corações, esse era uma mandato familiar, um legado sendo transmitido sem ser falado. Mas eis que nasce um menino, que para o “bem” ou para o “mal” daquela família é apaixonado pela música. Por esse motivo ele enfrentou muitos problemas familiares, não era admitido que ele se rendesse a essa paixão e ele não entendia porque. Nesse momento crucial o menino sai em busca de entender sua história, para isso foi atravessando gerações e conhecendo os varios personagens de sua linhagem. Até que entende que a música, que tanto lhe apaixona, fez parte da história de sua família. Essa linda história ilustra o poder do transgeracional, aquilo que não pode ser dito, um segredo, ou um trauma, ou o que não pode ser sofrido sempre que surge, ficará como algo bruto que será transportado de geração a geração portando a marca daquilo que não pode aparecer, que teve que ser sufocado.
Recebemos de nossos pais heranças psíquicas que são transmitidas por eles e deles por seu pais. Somos a nossa história e também a nossa pré-história. Histórias, lembranças, tradições, costumes familiares são passados de geração para geração. Mas existem situações traumáticas na pré história (na história dos pais, na história dos avós) do sujeito, são situações que por não poderem ser pensadas, elaboradas, sentidas e sofridas pelos sujeitos das gerações passadas se transformam em histórias de silêncios, de não compreensão e de vazios. Pairam fantasmas, silêncios, vazios, brancos, lacunas, elementos não compreendidos. Como são histórias que não podem ser contadas, pois não são conhecidas, elas inauguram uma cadeia traumática dominada por repetições em detrimento da memória e da historização do sujeito. O sujeito não sabe contar sua história de forma que essa ganhe um sentido, no lugar disso ele repete situações, ou formas de tratar os outros, ou fracassos que ele não compreende, pois ele está na verdade desempenhando um papel que tem muito mais a ver com a subjetividade de outra pessoa de sua história do que dele próprio. Quantas vezes não entendemos coisas que acontecem com a gente e que a resposta para compreender o sentido está no conhecimento da história familiar. Ao obter esses conhecimentos junta-se as pecinhas do quebra cabeça e tudo parece fazer mais sentido e muitas coisas passam a serem compreendidas.


Uma das coisas mais sofisticadas e difíceis de se captar num tratamento psicanalítico são essas histórias, elas devem ser tecidas a mão, de forma artesanal, numa reconstrução com o analista a partir do que se sente que não pertence ao paciente e sim a outro membro dentro daquela família, mas que o paciente não sabe. Quando podemos acessar essas histórias e descobrir junto com o paciente a sua pré história isso se torna libertador para que ele possa agora viver uma vida a partir da sua própria subjetividade, com menos invasões das subjetividades de seus antepassados. Essa reconstrução libera o paciente para seguir a sua própria história, único modo de ser feliz.

 

Fonte: Dra. Vanessa Voll

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