Destinos de uma infância destroçada

30 Outubro 2019

Imagem: Destinos de uma infância destroçada

 

Ao longo do filme, em meio à violência que Coringa sofre perante a sociedade e que ao fim expõe os outros, a dura realidade da criação de curinga vai aparecendo. O meio ambiente a que ele foi exposto em sua infância vai sendo desvelado a medidas que Coringa vai descobrindo seu passado e a forma como foi criado por sua mãe. Ele vai entrando em contato com a dura realidade que vivenciou em sua infância e que lhe tornou uma pessoa comprometida, com as emoções perturbadas. Sua doença em que ele ri quando devia chorar retrata a confusão emocional de seu mundo interno e a perturbação mental que sofre uma criança exposta a mentira, a loucura materna e a violência. Curinga não tinha acesso a sua vida até então, quando adulto descobriu que era filho bastardo da relação da empregada com seu patrão, foi atrás dessa verdade e sofreu a rejeição desse suposto pai, até que descobre que essa história foi inventada/alucinada por sua mãe. Coringa nunca soube quem ele era. Não havia meio ambiente propício para que esse menino se desenvolvesse bem, o ambiente lhe roubou sua história, borrou as fronteiras entre a realidade e a ilusão, entre a sanidade e a loucura, não acolheu uma criança em suas necessidades de ser cuidado, amado, protegido. Foi um ambiente enlouquecedor, sua mãe não podia lhe proteger, ela própria estava desprotegida e desamparada. Ela própria estava perturbada e confusa. Como diz Winnicott um bebê não existe sem sua mãe, é ela quem lhe devolve com o olhar e o cuidado certo a noção de quem o bebê é, mas se a mãe está perturbada ela devolve ao bebê sua própria confusão, assim o bebê não pode formar uma imagem de si e de seus sentimentos, no lugar disso fica uma imensa confusão e a desestruturação do psiquismo é um possível caminho. Assim, Coringa era um menino aos pedaços que virou um homem aos pedaços. A sociedade não acolheu esses pedaços e a tragédia estava montada. É na infância que muito se constrói ou se destrói. Coringa levou ao mundo o que viveu em sua pele, a violência, a dor, a destruição.