“A vida muda muito rápido. A vida muda num instante. Você senta para jantar e a vida que você conhecia acaba de repente”

13 Junho 2019

“A vida muda muito rápido. A vida muda num instante. Você senta para jantar e a vida que você conhecia acaba de repente”

Imagem: “A vida muda muito rápido. A vida muda num instante. Você senta para jantar e a vida que você conhecia acaba de repente”

 

“A vida muda muito rápido.
A vida muda num instante.
Você senta para jantar e a vida que você conhecia acaba de repente”

Palavras da escritora americana Joan Didion em seu livro “O ano de pensamento mágico”. Ela nos conta como conseguiu sobreviver a doença de sua filha, que inicialmente se mostrou como uma simples febre e depois se revelou um choque séptico, e a morte de seu marido, também escritor que vivia com ela há 40 anos numa relação de grande companheirismo. Sua pergunta foi a mesma que muitos de nós fizemos ou faríamos ao perder alguém que amamos muito: E agora? O que fazer se a vida parece não ter mais sentido? Joan conta como conseguiu sobreviver a dor e desespero nessas semanas e meses que se seguiram a esses tristes acontecimentos. Conta sobre como conseguiu atravessar esse momento em que tudo o que ela conhecia e amava deixou de existir em instantes. Enquanto eu lia a mim ia despertando um sentimento de que a autora ia contando os fatos mas não ia se envolvendo profundamente com eles, ela falava de como tudo tinha acontecido, ia tentando entender aquele dia, a ordem dos acontecimentos, os dias que antecederam a morte do marido, tentando juntar numa história que lhe parecesse compreensível. Mas eu não sentia contato com sua dor, o livro não me emocionava como eu pensei que emocionaria, até que passado a metade desse livro ela escreve: “Até o presente momento, eu só tinha podido sofrer, não realmente ficar de luto. Sofrer é uma coisa passiva. Apenas acontece. O luto, o ato de lidar com o sentimento da perda, requer uma atenção especial. Até então, uma série de razões urgentes ocorreram e desaviaram qualquer atenção que pudesse ser dirigida a outra coisa, banindo o pensamento, injetando uma nova carga de adrenalina para suportar a crise do dia”. E foi frente a essa frase que tudo fez sentido. Há dores insuportáveis de serem sentidas em sua íntegra, de uma vez só. Sao dores que precisam ser vividas e sentidas em doses humanas e suportáveis. Aqui, ela não consegue doar os sapatos de seu marido. E se ele voltar? Se pergunta ela. Vai precisar de seus sapatos... esse é o pensamento mágico, algo que ocorre na mente infantil, que nega a realidade que vem existindo. É um recurso necessário pra lidar com tamanho sofrimento, algo que passa com o tempo e cede lugar cada vez mais a realidade. Certa vez alguém me disse sobre a morte de seu marido: não parece que ele morreu, sinto que ele pode entrar por aquela porta a qualquer momento. Faz parte do processo esse sentimento, que não deve ser desfeito por ninguém. Quando escutamos alguém nesse momento o que nos resta é muito: ouvir o que a pessoa tem a dizer, sem querer adiantar o processo natural da coisas. Cada um tem seu tempo e ser escutado quando se quer falar é a única coisa que nos resta, e isso é muito, tem grande valor. Não precisamos nem devemos dar grandes sugestões, ou dizer como a pessoa deve proceder, tampouco devemos lhe dizer que já está na hora de se cuidar, de voltar a vida, de sair. Esse processo deverá vir de dentro para fora e não de fora para dentro, com a cobrança das pessoas por uma reação de superação de quem sofreu a perda. Isso só traz mais angústia e arranca a pessoa do processo mais saudável e natural de fazer o luto. E esse processo passa por um primeiro momento pelo pensamento mágico, mesmo sabendo que a pessoa morreu ainda vivemos em algum sentido como se ela não estivesse morrido.
Nem sempre nos é possível encarar a dor de frente e ver e sentir tudo o que há nessa dura experiência, as vezes só nos é possível sofrer por um tempo aquela dor mas não entrar totalmente em contato, até que com o tempo possamos estar mais fortes para adentrar mais um pouquinho nessa ferida. O luto por uma perda só pode realmente ser feito quando se entra em contato com cada pedacinho que faz doer, mas o tempo que isso deve acontecer é muito pessoal e via de regra longo.

 

Fonte: “O ano do pensamento mágico” Joan Didion

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